Com muito orgulho, com muito amor

Acordei e por alguns segundos acreditei que o que tinha acontecido ontem fosse só um sonho ruim. Estou triste. Profundamente triste. 

Quando Portugal foi goleado pela Alemanha, nós estávamos assistindo o jogo em um parque lotado. Parecia que Lisboa inteira estava lá. No primeiro gol surgiu uma tensão, mas as pessoas ainda estavam confiantes. E continuavam aplaudindo os lances em que Portugal tentava contra-atacar, mesmo que em vão. Até mesmo os momentos em que eles faziam besteiras descaradas. Porque é isso que um torcedor europeu faz quando o seu time ou seleção está perdendo: ele aplaude, pra motivar e mostrar que eles tão ali. No segundo gol a moral baixou bastante. No terceiro muita gente foi embora. No quarto a esperança não se via a quilômetros. Porque é isso que um torcedor português faz. Perde a esperança quando a situação tá feia. No jogo contra Gana, em que Portugal tinha que golear o adversário, eu estava torcendo muito mais do que qualquer português com quem conversei.

Ontem, quando acabou o primeiro tempo, eu estava completamente arrasada, mas ainda tinha esperança. Se eles fizeram 5, a gente também podia fazer. Ou, pelo menos, diminuir a diferença. Porque é isso que um torcedor brasileiro faz: é positivo e tem esperança quase até o fim. Talvez seja nossa fé que nos faça ser positivos, apesar de não parecer que somos quando eu entro no meu facebook. Mas eu sei que tá lá, eu me conheço e conheço esse povo. Quase até o fim. Porque antes do fim, o torcedor brasileiro perde a paciência e xinga os jogadores de sua seleção, além da presidenta do seu país e quem mais passar na frente. A nossa raiva e dor tem que ser posta pra fora e encontrar um culpado. Não sabemos sofrer calados.

Essa semana fez 1 ano que estamos morando em Portugal. O principal motivo que me faz ter vontade de voltar pro Brasil são as pessoas. O problema é que a maior razão que me faz não querer voltar são as pessoas. Muitas vezes as mesmas pessoas. É assustador como o brasileiro quer que o Brasil mude, mas não quer mudar. Vou contar uma coisa pra vcs: vc é o Brasil. Um país é feito de pessoas e se tem muita coisa errada é porque vc tá errado. O mundo não gira ao redor do Neymar, nem ao seu redor e, pasmem, nem mesmo ao redor de qualquer governante nesse mundo. Mas é vc quem determina como ele vai girar.

Até ontem eu queria estar aí no Brasil. Sentindo esse clima. Vendo os olhinhos dos estrangeiros brilhando com as caipirinhas chegando até eles no paraíso, como não cansa de repetir o marido gringo da minha amiga. Vendo quem disse que não ia torcer roendo as unhas. Vendo a união que só acontece quando é pelo futebol. Vendo o sorriso estampado na cara de cada jogador da Alemanha, mesmo antes do jogo de ontem. Tenho a impressão de que eles nunca foram tão felizes na vida. Amor não se controla, se sente.

Mas antes do final do jogo eu perdi a vontade. Fiquei com vergonha. Não por causa dos 7 gols que podiam ter sido muito mais. Com relação a isso eu sinto pena. Mas porque comecei a ouvir os gritos de ódio do brasileiro e é disso que eu sinto vergonha. Lembrei da nossa intolerância. De como a gente não sabe perder. De como a gente gosta de ser ignorante. De como a gente é capaz de detestar com a mesma força com que amamos. De como a gente só enxerga nosso próprio umbigo. Do quanto a gente gosta de cobrar dos outros sem exigir nada da gente mesmo.

É, não dá pra ganhar todas as Copas. Nem todos os jogos. Nem evitar ser goleado algumas vezes na vida. O Brasil perdeu pra Alemanha na Copa de 2014. E perdeu feio.

Mas eu prefiro lembrar que a Seleção Brasileira, o futebol do meu país, com seu gingado, seu jeito único de jogar, sua cor, sua cumplicidade, sua alegria, com a toda a emoção do mundo, rindo e chorando, é a única que tem 5 estrelinhas em cima de seu brasão. E a única que foi capaz de participar de todas as Copas.

O Brasil já ganhou esse ano. Ganhou porque pôde mostrar ao mundo que as nossas qualidades superam os nossos defeitos. Porque sediou a Copa das Copas. E eu só tô repetindo o que li por aí. Porque os gringos que achavam estar arriscando sua vida ao ir pro Brasil assistir o Mundial, foram arrebatados de paixão por um lugar de belezas infinitas e cheio de alegria, mesmo que seja sem razão. A nossa alegria não precisa de motivo. Vem de dentro. É mais forte que a gente. É minha maior saudade e meu maior orgulho.

Hoje, eu dou graças a Deus por não ser alemã, mas sim brasileira. Porque o que a gente tem no futebol, no nosso país, na nossa gente, é muito bom. Eu não quero que o meu país se torne uma Alemanha em nenhum sentido. Se for pra assistir o país do futebol e do samba jogar como a Alemanha, eu viro torcedora de golfe. Sabe igual a quem a gente tem que ser? Um lugar que se chama Brasil. A gente tem que jogar como a gente mesmo, do nosso jeito, só que melhor. Que seja assim, no futebol e na vida.

A gente chora de tristeza e de alegria. A gente é capaz de ir abraçar o adversário perdedor no fim do jogo. A gente quer ser rico, mas não quer que exista pobre. A gente ama receber e servir o outro. A gente acha que o que é melhor pra gente é o melhor pro mundo, A gente se acha esperto quando desrespeita regras. A gente faz a melhor música do mundo, estando longe de ser a mais perfeita. A gente se corrompe facilmente. A gente tem o nosso “jeitinho” e, quando usado pro bem, não existe nada mais sensacional. A gente acredita. A gente mente. A gente não gosta de desagradar. Nossas mães (ou pais) fazem a melhor comida do mundo. A gente faz amizade de infância quando já é adulto. A gente fala alto. A gente conversa. A gente xinga e briga. A gente se diverte e deveríamos andar pelo mundo ensinando isso. A gente samba, na mão, na voz e no pé.

Ninguém é só ruim. Ou só bom. A Alemanha vitoriosa de ontem há pouco mais de 2 décadas tinha um muro que dividia uma cidade ao meio. E joga futebol muito bem. E fabrica carros muitos bem. Hoje, passeando pela internet, parece que o Brasil é só ruim. O que é mais triste ainda do que a lavada de ontem.

Talvez, no dia em que aprendermos a valorizar o que temos de bom e melhorar o que temos de mau, uma vitória ou derrota no futebol não faça a menor diferença, pois continuaríamos orgulhosos. De sermos quem somos.

Brincadeirinha! O futebol brasileiro é o melhor do mundo e tem que ganhaaaar! hahahaha

Um comentário:

  1. Que lindo Carol. Me emocionei! Tenho lido tanta coisa rasa, e seu texto me comoveu. Precisamos aprender a "sermos um" em todos os contextos. Aprender a perder (taí a grandeza de um coração humano), e entender que a gente não tava mesmo merecendo ganhar aquele jogo. Ou mesmo essa copa. E que ainda precisamos nos esforçar muito pra ganhar na educação, na saúde, na segurança pública... Entendo isso mesmo que você disse: que o Brasil sou eu, é você, somos cada um de nós. Vamos usar nosso riso fácil pra levantar a cabeça no campo, e na vida. E chorar também pelas nossas perdas diárias pra corrupção, pra desigualdade, pro "jeitinho" usado da forma mais cruel possível. Essas lágrimas, eu acredito, podem nos fortalecer pra querer ser NAÇÃO em todos os sentidos possíveis da palavra. Gritar "eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor..." quando os corruptos forem presos, quando as greves forem respeitadas e olhadas, quando os "amarildos" forem encontrados, honrados, quando pararmos de ultrapassar pelo acostamento, quando deixarmos de imitar os americanos e lembrar que temos sim, uma cultura muito rica e incrível. Eu sou brasileira. Morro de amores por esse país. E acredito, desejo, que possamos ser humildes, amorosos, cuidados com o que é nosso. Ninguém pode arrancar a cultura e a história de um povo. Mas um povo precisa se reconhecer como UM. E acho que na hora de lutar pela melhora nossa de cada dia, pelos gols na política, a gente perde a força... (e não me excluo disso). Nos tornamos negativos, mesquinhos, e fazemos vista grossa, ou deixamos mesmo de enxergar, de nos importarmos. Ou, só xingamos mesmo, e "bola pra frente". Que o 7x1 de ontem fique pra sempre na nossa memória! Porque quando se perde, é que se ganha. "Quando sou fraco, então é que sou forte". Já temos muita fé, e um sorriso no rosto mesmo que a vida seja dura. O que nos falta é envolvimento, entrosamento pra fazer um gol. E quando esses gols nossos sairem... ahh... vai ter gostinho de quero mais e muita vontade de continuar crescendo! Bora Brasil! Vamos votar com a mesma garra que temos em campo... e ter fé, a bola é nossa, podemos virar esse jogo!
    Anamel

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